"A menina do Mar" de Sophia de Mello Breyner Andressen. Ilustrações a cargo dos alunos da "Turma d'Os Amiguinhos"
Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas.” (Ilustração 1 elaborada por Catarina Chaiça)
“Com muito cuidado para não fazer barulho, levantou-se e espreitou escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. (Ilustração 2 elaborada por Claudiu)
A menina, que devia medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas.
E estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas. E nadavam e riam.
- Oh! Oh! Oh! – Ria o polvo.
- Que! Que! Que! – Ria o caranguejo.
- Glu! Glu! Glu! - Ria o peixe.
- Ah! Ah! Ah! - Ria a menina.”
(Ilustração 3 elaborada por Catarina Chaiça)
“Depois pararam de rir e a menina disse:
- Agora quero dançar.”
(Ilustração 4 elaborada por Jéssica Alexandra)
“Então num instante, o polvo o caranguejo e o peixe transformaram-se numa orquestra.
O peixe, com as suas barbatanas, batia palmas na água.
O caranguejo subiu para uma rocha e com as suas tenazes começou a tocar castanholas.
O polvo trepou para cima dos rochedos e esticando muito dos seus oito braços prenderam pelas pontas com as suas ventosas na pedra e, com o braço que tinha ficado livre, começou a tocar guitarra nos seus sete braços. Depois pôs-se a cantar.” (Ilustração 5 elaborada por Catarina Nunes)
“O rapaz, louco de curiosidade, não conseguiu ficar quieto mais tempo. Deu um salto e agarrou a menina.
- Ai, Ai, Ai! Que desgraça! - Gritava ela. (…)
- Ó polvo, ó caranguejo, ó peixe!
- Não grites, não chores, não te assustes – dizia o rapaz. – Eu não te faço mal nenhum.” (Ilustração 6 elaborada por Ariani)
"Eu sei que me vais fazer mal.
- Que mal e é que eu hei – de fazer a uma menina tão pequenina e tão bonita?
- Vais-me fritar. - Disse a Menina do mar. E pôs-se outra vez a chorar e a gritar - Ó polvo, ó caranguejo! (Ilustração 7 elaborada por Denilson)
"Então o polvo, o caranguejo e o peixe, apesar de estarem cheios de medo, saíram detrás das algas onde se tinham escondido, e começaram a tentar salvar a menina." (Ilustração 8 elaborada por João)
"- Não te quero fritar nem fazer mal nenhum. Só te quero ver bem porque nunca na minha vida vi uma menina tão pequena e tão bonita.
Então ela parou de gritar (…) e disse:
- Vamos sentar-nos os dois naquele rochedo e eu conto-te tudo.
Eu sou uma menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci.
Tenho tanta curiosidade da terra – disse a menina – amanhã, quando vieres traz-me uma coisa da terra.
E assim ficou combinado.
No dia seguinte, logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera. "(Ilustração 9 elaborada por Catarina Silva)
"- Bom dia – disse o rapaz. E ajoelhou-se na água em frente da menina do mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra – disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda – disse a menina do mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa. " (Ilustração 10 elaborada por Catarina Dias)
" - Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.
Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
- Ai! - suspirou a Menina do Mar olhando para a Terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
O rapaz atirou fora a rosa e disse:
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.
E foram os cinco: o rapaz, a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe pelos carreirinhos de água, rindo e brincando durante a manhã toda." (Ilustração 11 elaborada por Iuri)
O rapaz pegou na Menina do Mar, sentou-a numa rocha e ajoelhou-se a seu lado.
- Trouxe-te isto - disse. - E uma caixa de fósforos.
- Não é muito bonito - disse a Menina.
- Não; mas tem lá dentro uma coisa maravilhosa, linda e alegre que se chama o fogo. Vais ver.
E o rapaz abriu a caixa e acendeu um fósforo. " (Ilustração 12 elaborada por Hélder)
"A Menina deu palmas de alegria e pediu para tocar no fogo.
- Isso -- disse o rapaz - é impossível. O fogo é alegre mas queima.
- É um sol pequenino - disse a Menina do Mar.
- Sim - disse o rapaz - mas não se lhe pode tocar.
E o rapaz soprou o fósforo e o fogo apagou-se." (Ilustração 13 elaborada por Jéssica Moreno)
"No dia seguinte o rapaz chegou à praia ,sentou-se ao lado da menina do mar e disse:
- Hoje trago-te uma coisa da terra que é bonita e tem lá dentro alegria. Chama-se vinho. Quem o bebe fica cheio de alegria. Enquanto dizia isto o rapaz pousou na areia um copo cheio de vinho. Era um daqueles copos muito pequenos que servem para beber licores. A menina do mar segurou o copo com as duas mãos e olhou o vinho cheia de curiosidade.
-É muito encarnado e muito perfumado –disse ela –conta-me o que é o vinho.(…)
E a menina bebeu o vinho riu-se e disse:
-È bom e é alegre. Agora já sei o que é a terra .A gora já sei o que é o sabor da Primavera, doVeraõ e do Outono .Já sei o que é o sabor dos frutos. Já sei o que é a frescura das árvores .Já sei como é o calor duma montanha ao sol .Leva-me a ver a terra. Eu quero ir ver a terra. Há tantas coisas que eu não sei. O mar é uma prisão transparente e gelada . No mar não há Primavera nem Outono. No mar o tempo não morre.
As anémonas estão sempre em flor e a espuma é sempre branca . Leva-me a ver a terra. "
(Ilustração 14 elaborada por Catarina Chaiça)
"A Raia ordenou aos polvos que não me deixassem passar. As rochas estão cheias de polvos escondidos que nós não vemos, mas que nos vêem e espiam cada um dos nossos gestos. Tenho que te dizer adeus para sempre. Amanhã já não volto aqui porque a Raia, para me castigar de eu ter querido fugir, decidiu que esta noite ao nascer da Lua eu serei levada pelos polvos, para uma praia distante, que eu não sei como se chama, nem onde fica. E nunca mais nos poderemos encontrar. " (Ilustração 15 elaborada por André)
Até que chegou o Inverno. O tempo estava frio, o mar cinzento e chovia quase todos os dias. E numa manhã de nevoeiro o rapaz sentou-se na praia a pensar na Menina do Mar.
E enquanto assim estava viu uma gaivota que vinha do mar alto com uma coisa no bico. Era uma coisa brilhante que reflectia luz e o rapaz pensou que devia ser um peixe. Mas a gaivota chegou junto dele, deu urna volta no ar e deixou cair a coisa na areia.
O rapaz apanhou-a e viu que era um frasco cheio duma água muito clara e luminoso.
- Bom-dia, bom-dia - disse a gaivota.
- Bom-dia, bom-dia - respondeu o rapaz.
Donde é que vens e porque é que me dás este frasco?
- Venho da parte da Menina do Mar - disse a gaivota. Ela manda-te dizer que já sabe o que é a saudade. E pediu-me para te perguntar se queres ir ter com ela ao fundo do mar.
- Quero, quero - disse o rapaz. Mas como é que eu hei-de ir ao fundo do mar sem me afogar?
- O frasco que te dei tem dentro suco de anémonas e suco de plantas mágicas. Se beberes agora este filtro passarás a ser como a Menina do Mar. Poderás viver dentro da água como os peixes e fora da água como os homens.
- Vou beber já - disse o rapaz.
E bebeu o filtro.
Então viu tudo à sua roda tornar-se mais vivo e mais brilhante. Sentiu-se alegre, feliz, contente como um peixe. Era como se alguma coisa nos seus movimentos tivesse ficado mais livre, mais forte, mais fresca e mais leve.
- Ali no mar - disse a gaivota - está um golfinho à tua espera para te ensinar o caminho.
O rapaz olhou e viu um grande golfinho preto e brilhante dando saltos atrás da arrebentação das ondas. Então disse:
- Adeus, adeus, gaivota. Obrigado, obrigado. " (Ilustração 16 elaborada por Rodrigo)
"E correu para as ondas e nadou até ao golfinho.
- Agarra-te à minha cauda - disse o golfinho.
E foram os dois pelo mar fora.
Nadaram muitos dias e muitas noites através de calmarias e tempestades. " (Ilustração 17 elaborada por José)
"Depois de nadarem sessenta dias e sessenta noites chegaram a uma ilha rodeada de corais. O golfinho deu a volta à ilha e por fim parou em frente duma gruta e disse:
- É aqui: entra na gruta e encontrarás a Menina do Mar.
- Adeus, adeus, golfinho. Obrigado, obrigado. " (Ilustração 18 elaborada por Licia)
"A gruta era toda de coral e o seu chão era de areia branca e fina. Tinha em frente um jardim de anémonas azuis.
O rapaz entrou na gruta e espreitou. A Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe estavam a brincar com conchinhas. Estavam quietos, tristes e calados. De vez em quando a Menina suspirava. "
- Estou aqui! Cheguei! sou eu! - gritou o rapaz. (…)
Então a Menina do Mar sentou-se no ombro do rapaz e disse:
- Estou tão feliz, tão feliz, tão feliz! Pensei que nunca mais te ia ver." (Ilustração 19 elaborada por Claudiu)
"No dia seguinte houve outra festa no Palácio do Rei. A Menina do Mar dançou toda a noite e as baleias, os tubarões as tartarugas e todos os peixes diziam:
- Nunca vimos dançar tão bem.
E o Rei do Mar estava sentado no seu trono de nácar, rodeado de cavalos-marinhos, e o seu manto de púrpura nas águas." (Ilustração 20 elaborada por Érica)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home